Martinho José Ferreira (Duas Barras RJ 1938). Compositor, cantor, ritmista, produtor, escritor. Filho de lavradores, nasce em uma fazenda do interior fluminense mudando-se com os pais para a cidade do Rio de Janeiro com 4 anos. Criado no subúrbio carioca, se interessa pelo samba e passa a compor para a escola Aprendizes da Boca do Mato entre 1958 e 1964. Paralelamente, trabalha como contador e datilógrafo, funções que desempenha no Exército entre 1956 e 1969.
O nome Martinho da Vila está relacionado com a ligação que estabelece em meados dos anos 1960 com a escola de samba Unidos de Vila Isabel, tornando-se o principal compositor e autor de enredos dessa agremiação. Inscreve-se nos festivais da TV Record em 1967 e 1968, respectivamente com os sambas “Menina Moça”, uma das músicas finalistas, e “Casa de Bamba”, gravado em seu primeiro LP, Martinho da Vila, de 1969.
Graças ao grande sucesso alcançado nos anos 1970, Martinho da Vila se torna um dos principais representantes do samba e da popularização do partido-alto, variante que, embora gravada desde os anos 1930 por artistas como Noel Rosa, fica quase sempre circunscrita às rodas de samba do subúrbio carioca. Depois de uma turnê em Angola em 1972, desperta seu interesse pelas ligações históricas entre as culturas africanas e afro-brasileiras, engajando-se na luta pela afirmação da identidade negra e defesa da igualdade racial, temas constantes em suas canções e em livros de sua autoria, como Kizombas, Festas e Andanças(1992), Ópera Negra (2001), Memórias Póstumas de Tereza de Jesus (2002).
Em 1980, Martinho da Vila participa da organização de shows de artistas brasileiros em Angola e traz artistas desse país para realizar no Brasil o show Canto Livre de Angola, gravado em 1983 em um LP produzido por ele. Nessa época, integra sua família à banda, incentivando a carreira da filha Mart’nália. Em 1988, ano do centenário da abolição da escravidão no Brasil, cria o enredo Kizomba, Festa da Raça, dos compositores Rodolfo, Jonas e Luiz Carlos, com o qual a Unidos de Vila Isabel conquista o inédito título de campeã do Carnaval carioca.
Nos anos subsequentes dedica-se à gravação de novos discos de estúdio como Martinho da Vida (1990), Tá Delícia, Tá Gostoso (1995), Lusofonia (2000) e o Do Brasil e do Mundo (2007), e DVDs de shows, como Conexões (2004) e Brasilatinidade (2005), cujos repertórios incluem obras de artistas de outros países de línguas portuguesa e espanhola. Em 2009 é lançado Filosofia de Vida: O Pequeno Burguês, documentário sobre a vida de Martinho da Vila dirigido por Edu Mansur.
Tem canções gravadas por Clara Nunes (“Grande Amor”), João Donato e Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo (“Silk Stop – Passarinha – Gaiolas Abertas”, parceria de João Donato), Zeca Baleiro (“Salve a Mulata Brasileira” e “Disritmia”), Zeca Pagodinho (“Cuidado com a Inveja, É de Black-Tie”, “Aonde Quer que Eu Vá e Se Eu Sorrir”, “Tu Não Podes Chorar”). Por Simone, o compositor tem parte de sua obra gravada em 1996 no CD Café com Leite (Madalena do Jucu, Quem É do Mar Não Enjoa, Ex-Amor, entre outras).